Redução de Gases de Efeito Estufa do Setor de Construção e Incorporação Imobiliária
26/09/2025 Artigo escrito por Henrique Mendonça
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais da humanidade, impulsionadas em grande parte pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) devido às atividades humanas. A mudança no clima contribui para a maioria dos impactos ambientais recentemente experimentados nos sistemas naturais e na sociedade, através de eventos extremos que estão presentes cada vez mais frequentes em nossas vidas.
O setor da construção civil tem uma participação significativa nesse cenário, sendo responsável por cerca de 39% das emissões globais de carbono, divididas entre emissões operacionais (principalmente energia e combustíveis fósseis) e emissões incorporadas (provenientes dos materiais e processos construtivos). Assim, reduzir as emissões no setor é crucial para mitigar os impactos climáticos e garantir que as metas globais de descarbonização, como as definidas no Acordo de Paris, sejam atingidas.
Compromissos ambientais
Empresas líderes têm assumido compromissos climáticos públicos e estruturado práticas de governança para medir e reportar emissões. Porém, ainda enfrentam dificuldades em transformar relatórios em estratégias eficazes de descarbonização, especialmente no tratamento das emissões de Escopo 3. Nesse cenário, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) surge como ferramenta essencial para orientar a gestão de carbono e apoiar a inovação necessária para atingir metas ambientais ambiciosas.
Oportunidades de negócios e vantagem competitiva
Empresas que adotam estratégias climáticas abrangentes e de descarbonização ganham vantagem competitiva, fortalecem suas marcas, atraem clientes e investidores e acessam novas oportunidades de mercado e financiamentos verdes. A gestão de emissões de GEE, como pilar do ESG, aumenta o valor da marca, reduz riscos regulatórios e reputacionais, melhora a eficiência operacional e garante maior sustentabilidade e resiliência nos negócios.
Metodologia e Credibilidade
A metodologia garante que a gestão de carbono seja confiável, comparável e aceita pelo mercado. O GHG Protocol é a metodologia amplamente utilizada para a contabilidade de Carbono Corporativo, e classifica as emissões em categorias de Escopo 1, 2 e 3. As emissões do Escopo 3 podem representar mais de 90% das emissões de empresas do setor de construção e incorporação imobiliária. Estas emissões indiretas ocorrem na cadeia de valor da organização, incluindo emissões de fornecedores, transporte, uso de produtos e descarte.
Outra metodologia que está em crescente uso é a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). A ACV auxilia diretamente na gestão de emissão de Escopo 3, oferecendo uma visão detalhada das emissões relacionadas às atividades econômicas ao longo do ciclo de vida de um projeto. Ao contrário da visão centrada nos escopos corporativos, a ACV avalia as emissões independentemente de sua origem dentro da empresa e sua cadeia de valor, proporcionando insights detalhados sobre os impactos ambientais de projetos e portfólio.
Apesar de seu objetivo comum, reduzir as emissões, essas duas abordagens frequentemente operam em diferentes departamentos organizacionais, resultando em iniciativas isoladas com colaboração limitada. A estratégia de carbono corporativo tende a ser impulsionada por stakeholders externos, como investidores e reguladores, que estão focados na divulgação das emissões realizadas, enquanto a ACV geralmente está enraizada em pesquisa e inovação, e permite definir metas de redução e fazer projeções a longo prazo.
Ao preencher a lacuna entre os dados detalhados de projetos e as informações de emissões corporativas de alto nível, as empresas podem otimizar suas iniciativas de sustentabilidade, promovendo eficiência e inovação, levando, por fim, a uma estratégia de sustentabilidade mais robusta e coesa.
Avaliação de Ciclo de Vida
A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é definida como uma abordagem sistemática para avaliar os impactos ambientais do empreendimento como um todo em todas as fases de seu ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas, passando pelo processamento, fabricação, distribuição, uso, reparo e manutenção, até o descarte ou reciclagem.
Normas técnicas como ISO14040 e ISO14044 e métodos de cálculo como EN15978 garantem consistência e transparência dos dados e resultados.
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é essencial para estratégias de descarbonização eficazes e de longo prazo, pois melhora a precisão do cálculo de emissões, especialmente do Escopo 3, e reduz a dependência de compensações. Com a ACV, empresas conseguem identificar impactos relevantes na cadeia de suprimentos, selecionar fornecedores responsáveis e encontrar inovações desde a fase de concepção de projetos. Além disso, ela alinha os esforços de descarbonização de projetos e metas corporativas, amplia a análise para múltiplos impactos ambientais além do carbono e promove integração entre equipes. Essa abordagem integrada não só fortalece a sustentabilidade, mas também reduz custos e aumenta a eficiência ao longo do ciclo de vida do empreendimento.
Escopo 3 e Cadeia de Suprimentos
A ACV melhora a precisão das estimativas de emissões do Escopo 3, que muitas vezes são as mais difíceis de quantificar devido à sua natureza indireta. Ao utilizar modelos extensivos de ACV produzidos através de software específico para o ambiente construído, as empresas podem preencher lacunas de informações, permitindo uma visão mais clara dos impactos da cadeia de valor. Essa precisão é crucial para garantir que as iniciativas de descarbonização se concentrem nas áreas mais significativas de impacto, otimizando a alocação de recursos e esforços, e principalmente garantindo investimento de capital nas melhorias mais relevantes.
A ACV também influencia na gestão da responsabilidade ao longo da cadeia ao fornecer resultados sobre os impactos de fornecedores e processos externos, facilitando a seleção de fornecedores e a implementação de práticas de compras responsáveis. Isso resulta em uma abordagem mais eficaz e sustentável para a gestão da cadeia de suprimento e a todos envolvidos no projeto desde da fase inicial de investimento, concepção até a entrega do empreendimento.
Qualidade dos Dados e Resultados
A modelagem de emissões através da ACV facilita a obtenção de dados primários de fornecedores (materiais, transporte, energia, resíduos) e aumenta a credibilidade do inventário. Este processo sistêmico reduz risco de inconsistências entre diferentes obras e projetos e permite criar as referências de mercado (benchmarks) e modelos de comparação.
A integração com Declarações Ambientais de Produto (DAP) de fabricantes nacionais e utilização de dados regionalizados aumentam a qualidade dos dados e resultados, e permite fazer comparação específica para os produtos disponíveis no mercado. Quando a DAP não está disponível, é possível utilizar a base de dados com informações validadas conforme normas técnicas (EN15804/ISO21930)
Ferramentas de Avaliação de Ciclo de Vida permitem simulações de melhorias, criar relatórios detalhados e automatizados através de interface intuitiva. Os dados e formato dos resultados também são compatíveis com Certificações Ambientais como LEED, GBC Brasil Condomínio, AQUA, BREEAM, entre outras. Assim como programas de ESG e compliances regulatórios (GRESB, GRI, CDP). Outro ponto importante na consistência dos dados é a integração com modelos BIM já existentes, garantindo o fluxo de informações e eficiência.
Financiamento Verde e Taxonomia Sustentável Brasileira
A Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) tem uma relação direta com o setor da construção e incorporação imobiliária, porque esse setor é um dos que mais consome recursos naturais, gera emissões de GEE e impacta no uso do solo. A taxonomia define critérios objetivos para identificar quando um empreendimento imobiliário ou projeto de construção pode ser considerado sustentável, o que afeta diretamente o acesso a financiamentos verdes.
Para demonstrar conformidade, empresas do setor precisarão mensurar o impacto ambiental dos empreendimentos ao longo do ciclo de vida (produção de materiais, transporte, obra, uso e fim de vida). Este requisito conecta a TSB a metodologias como ACV e a certificações ambientais (LEED, EDGE, AQUA, GBC).
Ações estratégicas de descarbonização
Para garantir que os projetos estão efetivamente reduzindo as emissões e alinhados com as metas de descarbonização, as empresas devem focar nas seguintes ações principais:
Implementar Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) – Utilize a ACV para avaliar e otimizar todas as fases do ciclo de vida dos projetos, desde a concepção até o fim da vida. Isso inclui a análise do impacto ambiental das escolhas de materiais, processos de construção e operação. Através da ACV, identifique e priorize oportunidades para reduzir as emissões de carbono e melhorar a eficiência dos recursos. A ACV possibilita a criação de médias de mercado e benchmarking exclusivo da empresa, permitindo uma comparação direta com a prática atual do setor.
Integrar Práticas de Construção Sustentável – Adote práticas e tecnologias de construção sustentáveis, como o uso de materiais de baixo carbono, eficiência energética e soluções para gestão de resíduos. Certifique-se de que essas práticas não só atendem aos requisitos normativos, mas também contribuem significativamente para as metas de descarbonização da empresa.
Otimização do Uso de Concreto – Reduzir o impacto ambiental associado ao concreto, buscando alternativas que utilizem menos cimento ou incorporem materiais reciclados e aditivos para melhorar a sustentabilidade.
Redução do Consumo de Diesel: Substituir o diesel por biocombustíveis e uso de equipamentos e maquinários elétricos, minimizando as emissões de gases de efeito estufa e promovendo uma maior eficiência energética.
Monitorar e Revisar Desempenho Continuamente – Estabeleça um sistema robusto de monitoramento e revisão contínua das emissões e do desempenho ambiental dos projetos. Realize auditorias regulares para garantir que as práticas de redução de emissões estão sendo seguidas e ajuste as estratégias conforme necessário para atingir as metas de descarbonização.
Como a Parsus pode ajudar
Quando a expertise da Parsus é integrada em uma estratégia de descarbonização mais ampla, ela ajuda as empresas a:
- Eliminar suposições, oferecendo insights sobre os pontos críticos de emissões ao longo dos ciclos de vida dos projetos.
- Fornecer uma visão mais precisa e abrangente das emissões de Escopo 3.
- Estabelecer uma base de dados consistente para uma contabilidade e relatórios de carbono corporativos e de projetos precisos, alinhando toda a organização em torno de uma meta unificada de descarbonização.
Para criar novas oportunidades de negócios e avançar em suas iniciativas de descarbonização, as organizações precisam de orientação especializada, dados abrangentes de ACV e ferramentas de software de alta qualidade.
A Parsus é especialista no setor da Construção com participação em mais de 100 projetos para diversos clientes através de soluções de alta qualidade e rigor técnico. Oferecemos serviços de consultoria, suporte técnico e programas de capacitação específicos para sua organização transformar os compromissos de descarbonização em ações concretas.
